Anti-especismo prático: a vitamina B12 na alimentação vegana
Anti-especismo prático: a vitamina B12 na alimentação vegana
Marco Lorenzi
Tradução: Anna Cristina Reis Xavier; revisão: Genevive de Oliveira Moreira
A maior parte dos leitores dos Cahiers sabem que, do ponto de vista ético anti-especista, não há alternativas realmente aceitáveis e concretamente praticáveis para uma alimentação vegana. Sabe-se que os produtos lácteos e os ovos, ao contrário do que pensam os especistas e alguns anti-especistas, estão ligados à morte, ao sofrimento e à coisificação dos animais que são necessários para a produção destes alimentos. Ainda que a alimentação vegetariana seja um passo a mais rumo a um modo de vida coerente com o anti-especismo, ela não evita a exploração dos animais não humanos pelos animais humanos.
As pesquisas científicas relativas ao setor da nutrição confirmam que se a alimentação vegana for corretamente equilibrada, ela pode perfeitamente satisfazer as necessidades nutricionais humanas, acrescentando ainda benefícios não negligenciáveis com relação à alimentação seguida pelas populações dos países industrializados. Isso não significa que seja suficiente eliminar os ovos e o leite para nos alimentarmos de forma equilibrada. Para se alimentar corretamente, um vegano deve possuir algumas noções de dietética, para não correr o risco de sofrer carências de certos micronutrientes.
O micronutriente mais crítico para os veganos é a vitamina B12, pois ela não está presente nos alimentos vegetais. Hoje em dia ela se encontra apenas nos alimentos de origem animal (inclusive nos ovos e no leite). Ela é produzida por certas bactérias que se encontram geralmente presentes na terra e no intestino de todos os animais. Todavia, os homens, diferentemente dos herbívoros, não são capazes de assimilar a vitamina B12 produzida pelas bactérias de seu intestino.
Vários veganos acham que certos alimentos como leveduras alimentares, o levedo de cerveja, o germe de trigo, os grãos germinados, certos derivados da soja como o tempeh, os champignons ou certas algas (como a spirulina) garantem uma porcentagem suficiente dessa vitamina. Infelizmente não é verdade, trata-se de uma convicção oriunda da leitura de documentários ou livros de nutrição já antigos ou mesmo até recentes, mas que possuem informações científicas ultrapassadas.Anteriormente, os métodos de análise química não eram capazes de distinguir entre a vitamina B12 e outras substâncias análogas, mas desprovidas de atividade no organismo humano e que estavam presentes nos alimentos que citamos acima. Por esta razão, era impossível distinguir os alimentos que realmente continham esta vitamina dos que continham apenas seus análogos.
Teoricamente a vitamina B12 poderia estar presente em todos os alimentos vegetais não lavados, através de uma contaminação bacteriana causada por resíduos de terra; antigamente, quando as condições higiênicas eram piores, tal contaminação acontecia. Entretanto, hoje em dia, é praticamente impossível encontrarmos a quantidade essencial necessária desta vitamina em qualquer produto vegetal, ou nas algas, que possuem quase que exclusivamente análogos desta vitamina
As conseqüências da carência prolongada desta vitamina podem ser gravíssimas: os primeiros sintomas são o cansaço, a dificuldade de concentração, os problemas de memória, as tremedeiras, os formigamentos, os problemas gastro-intestinais, a insônia, a sonolência, a depressão, a irritabilidade, etc. Se estes sintomas de origem neurológica forem negligenciados, corre-se o risco de ter uma grave degenerescência das bainhas de mielina que cobrem os nervos; esta degenerescência é, na maior parte dos casos, irreversível, podendo levar à paralisia ou a outras formas de demências.
Além disso, uma carência prolongada provoca um aumento da homocisteinemia e um risco de patologia do aparelho cardiovascular.
Na falta de um suplemento alimentar, as reservas da B12 que estão presentes no fígado podem durar em função dos hábitos alimentares do período que precedeu a escolha do veganismo. As reservas podem durar de um até cinco anos, ainda que os sintomas acima descritos possam ocorrer tardiamente ou simplesmente não ocorrer, ou ainda que a carência seja revelada através do exame de sangue (medida da vitamina B12 do sangue, do ácido metilmalônico do sangue e da urina e da homocisteinemia).
É claro que os riscos potenciais são graves, mas, felizmente, existem duas soluções que conciliam ética e saúde.
A primeira (que é a mais aconselhável) consiste no uso de suplementos. Há suplementos que não estão classificados como sendo remédios e, por isso, não são testados em animais, não são produzidos pelas multinacionais farmacêuticas e não possuem derivados de origem animal (atualmente, a vitamina B12 dos suplementos é quase sempre produzida através de culturas específicas de bactérias). Estes produtos podem ser encontrados em farmácias de manipulação de ervas, em lojas de alimentação natural e outras farmácias.
A dosagem normal é de 2 à 4 microgramas, mas é recomendável que se use pelo menos 10 (não foi sinalizado nenhum efeito secundário de hiper dosagem até 3 000 µg e mais por dia). É possível concentrar as doses tomando um comprimido de pelo menos 1000 µg duas vezes por semana, pois a assimilação desta vitamina se reduz drasticamente quando as quantidades são altas. Por outro lado, é desaconselhável tomar estes suplementos menos de uma vez por semana.
A segunda solução consiste em utilizar regularmente e quase que todos os dias alimentos vegetais enriquecidos com essa vitamina (como os hambúrgueres vegetais, sucos de fruta, biscoitos, leites de soja, etc.) lembrando de suprir as necessidades de acordo com a dosagem recomendada acima. O problema desta segunda solução é que encontramos poucos produtos veganos enriquecidos com B12 no mercado francês e geralmente o teor da B12 é muito baixo, o que impede que se atinja a taxa necessária de reposição para o organismo.
Já escutei vários anti-especistas afirmarem que se tornaram veganos para salvar os animais do abatedouro e que não estão preocupados com a saúde, por isso não se importam com a falta da B12, pois têm coisas mais importantes para fazer. A abnegação destas pessoas é admirável, mas a miopia também: seria realista tentar convencer outras pessoas a seguirem um tipo de alimentação realmente não violenta como o veganismo quando não podemos ser um exemplo aceitável para o outro? Em outros termos: apenas demonstrando que é possível sermos veganos sem destruirmos nossa própria saúde é que poderemos persuadir outras pessoas. Ora, todos os dados científicos dos quais dispomos até hoje indicam que, pelo menos durante um longo período, não é possível ficarmos sem ingerirmos B12 sem causarmos graves problemas para nossa saúde e, por extensão, para a causa anti-especista.
FONTE: Anti-especismo prático: a vitamina B12 na alimentação vegana (Les Cahiers Antispécistes - Refléxion et Action Pour L´Égalite Animale)
Especificamente para a França
É possível encontrarmos suplementos da B12 nas farmácias
(por exemplo a marca Vitarmonyl) mas os que encontramos na França, ainda que
mencionem o fato de "serem convenientes aos regimes vegetarianos e
veganos" possuem derivados de corpos de animais, sobretudo os estereatos,
como vários outros remédios (ver, por exemplo: http://www.snip.fr/actualite/ESBpres.htm ). A
única solução perfeitamente vegana é a de comprarmos a B12 no exterior,
particularmente na Grã Bretanha.
Citemos como exemplo os suplementos da marca Quest
Vitamins; o frasco de 60 comprimidos de 500 µg custa uma dezena de euros e
é suficiente, teoricamente, para uma pessoa por dez anos! Podemos também
encomendar por correspondência ou pela Internet no The Positive Health
Shop (52 Tydeman Road, Portishead, Bristol, BS20 7LS Royaume
Uni: http://shop.positivehealthshop.co.uk ).
Para quem vai à Inglaterra, a rede de lojas dietéticas Holland
& Barrettvende sua própria marca (dosagens 50, 100, 250, 500, 1000 µg,
claro «convém para vegetarianos e veganos») a preços interessantes (se não
levarmos em conta o preço da passagem de trem ou de avião...).
Para tais comprimidos que possuem uma forte dosagem (um
comprimido de 500 µg é amplamente suficiente para uma pessoa durante dois
meses) um método interessante pode ser o de moer o comprimido e de misturar o
pó obtido com um ou vários produtos de consumo cotidiano (açúcar, sal, levedura
alimentar...).
Alimentos enriquecidos
Geralmente as doses são menores, mas muitas vezes dentro do
patamar aceitável. Nos exemplos seguintes, indicamos entre parênteses a
quantidade necessária do produto para se obter 1 µg da vitamina, que é a dose
cotidiana considerada como sendo a mínima necessária.
Leite de soja Gerblé (1/2 litro); diversos
tipos de cereais usados no café da manhã; suco multivitaminado cocktail de 12
sucos de frutasSolevita/LIDL (1/5 litro); suco de frutas Wesergold multivitamines
(2/3 de litro); Marmite (7 gramas).
A redação
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