Os Novos Contos de Fadas e a Nova Consciência

Os Novos Contos de Fadas e a Nova Consciência

Era uma vez ("Once upon a time"), num reino muito, muito distante daqui...


Quem nunca ouviu um conto de fadas quando criança? Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Branca de Neve e os Sete Anões, Rapunzel, Pinóquio... Todas estas estórias fazem parte do imaginário das crianças que somos eternamente e como parte do imaginário, faz parte também do nosso subconsciente e do inconsciente coletivo. E se faz parte do subconsciente e do nosso inconsciente coletivo, segundo Jung, influencia diretamente em nossos processos psicológicos e emocionais.


Mas será que estes contos de fadas refletem a realidade ou será que foram criados para moldar o nosso inconsciente coletivo? Ou será que os contos de fadas representam nosso inconsciente coletivo mais antigo?

Os velhos contos de fada repetem os mesmos padrões de uma sociedade medieval, afinal foram criados nesta época seja pelos Irmãos Grimm quanto por Hans Christian Andersen. Estes contos falam do mundo de dualidade, desta mentalidade que tem dominado esta era de Ferro. Para entender a dualidade e a unicidade, leia o artigo "Unicidade e Dualidade - Parte I".

Nos contos de fadas existe sempre um reino governado por um Rei e uma Rainha benevolentes. A Princesa é sempre a mocinha passiva e servil, sempre na posição de vítima de todas as maldades da bruxa má, que tem poderes mágicos e ou é uma madrasta vingativa e ciumenta ou é uma fada que não tem suas oferendas cumpridas. Ela está sempre em um castelo numa torre guardada por um dragão feroz. O Príncipe é sempre o arquétipo do perfeito cavaleiro destemido que banca o herói e consegue salvar a Princesa e herda o Reino.


O Rei e a Rainha seriam os arquétipos mais elevados do masculino e feminino Animus e Anima de nosso inconsciente. Sábios e mais velhos, benevolentes.



A Princesa é o feminino Yin passivo que espera pacientemente na torre do castelo.


Seu herói é o Príncipe Encantado que é o masculino Yang agressivo e de ação.


A bruxa má, o feiticeiro do mal, a madrasta vingativa sempre dão o tom de desafio a ser superado e o dragão seria como o nosso Ego (no sentido de instintos animais mais primitivos e destrutivos, como a parte reptiliana que existe dentro de nós) que deve ser vencido para chegar até a torre do castelo onde está a Princesa e onde ocorrerá a união entre os princípios Masculino e Feminino em harmonia, a dualidade chegando ao conceito de unicidade, que seria atingido através do amor romântico, da união de duas partes do espírito (a energia Yin e a energia Yang). Mas neste caso, o amor romântico era apenas a simbologia de que o amor (no geral) é a força que consegue resolver os processos da alma.


Algumas vezes estes heróis recebiam a ajuda de um mago, uma fada madrinha para conseguir vencer os bruxos do mal que seriam os nossos pensamentos negativos.


Vistos deste ponto de vista Junguiano, os contos de fadas antigos refletem nossos processos psicológicos de uma maneira muito simplificada.

Se as pessoas conseguissem compreender os contos de fadas desta maneira, entenderíamos que são processos internos nossos dos aspectos emocionais e espirituais.

A Sociedade Antiga e os Contos de Fadas Antigos

No entanto, a sociedade como que numa catarse coletiva, tem se portado como se fosse o próprio inconsciente coletivo em partes desde a época medieval até a pouco tempo. Sem perceber que se uma pessoa assume apenas uma parte dos arquétipos dentro de si (uma mulher que obedece aos padrões passivos impostos pela cultura machista ou um homem que obedece a esta mesma cultura se coloca em um padrão agressivo sempre) sem conseguir compreender que dentro de si existem as duas forças Yin e Yang (o feminino e o masculino sagrados), a resolução da unicidade não consegue ocorrer.

É como se as pessoas vivessem desmembradas dentro de si mesmas.

As mulheres de antigamente deviam ser donas de casa passivas que obedeciam aos seus maridos, não podiam trabalhar fora, faziam os trabalhos de casa e cozinhavam, cuidavam dos filhos e faziam trabalhos manuais. As mulheres precisavam ser sensíveis e emotivas, frágeis donzelas sempre em perigo, as eternas princesinhas aprisionadas na torre dona de casa com filhos, seguiam um padrão impecável de beleza. Eram a expressão da energia Yin apenas.


Os homens de antigamente eram os provedores que trabalhavam fora e traziam o ganha pão. Precisavam ser agressivos para conquistar, ter mais do que os outros. Não podiam se aventurar a fazer o que era considerado "trabalho de mulher", como cozinhar, arrumar a casa e cuidar de filhos. Não podiam demonstrar emoções, não podiam chorar e nem demonstrar fragilidade. Precisavam ser os heróis sempre potentes e viris, os eternos príncipes valentes e precisavam se encaixar nos padrões de beleza. Eram a expressão da energia Yang apenas.


Os pais dos Príncipes e Princesas, os Reis e Rainhas eram sábios e infalíveis e sempre estavam em harmonia.

Aqueles que lidavam com os processos espirituais, os que eram considerados bruxos e bruxas, os feiticeiros, magos e fadas, recebiam este papel do mal ou do bem (da criação e da resolução dos processos psicológicos). Os processos psicológicos sempre tiveram uma conotação sobrenatural por conta dos homens não terem o hábito de entrarem dentro de si para receberem a cura em todos os níveis. Todos procuravam os curandeiros para curar ou os feiticeiros para lançar um feitiço ou uma macumba em cima dos outros. A responsabilidade dos pensamentos positivos ou negativos estava sempre nos outros, neste caso nos que saberiam manipular a força das palavras e dos pensamentos, além das energias da natureza.


O amor romântico seria considerada a única forma de amor verdadeiro, o último fim da existência de uma pessoa.

Estas pessoas ligadas a este mundo de dualidade extrema tinham ou tem muita dificuldade de resolver seus processos psicológicos de maneira mais calma e segura, caindo sempre nas armadilhas dos opostos sem conseguir sair da dualidade, pois eles eram apenas uma das partes das energias e pouco compreendiam da energia oposta por não se permitirem agir como a energia oposta, precisavam sempre fazer uma guerra entre os dois opostos.

Este seria o mundo da dualidade se tudo fosse realmente perfeito. No entanto, a verdade não era e nem será como este mundo de dualidade que disseram ser perfeito.

Todos nós sabemos que os pais, representados pelos Reis e Rainhas dos contos de fadas, erram também e por isto também precisam ser perdoados e amados, nem sempre estiveram em harmonia e também aprendem muito com seus filhos. Reis e Rainhas como pais não são perfeitos e algumas vezes se tem vícios e problemas de caráter estão longe de serem exemplos de conduta.

Reis e Rainhas da vida real, das famílias reais medievais tem em seu currículo familiar uma série de crimes hediondos e foram ambiciosos, invejosos, assassinos e ladrões para tomarem as terras, os bens das pessoas e a liberdade das mesmas. Muitos até escravizaram povos e etnias inteiras. Destruíram florestas e extinguiram espécies de animais e plantas ao redor do mundo.


A verdade é que o homem de antigamente como o tal Príncipe Encantado ao subjugar a mulher e fazer que ela dependesse dele financeiramente por completo, fez com que ele se entregasse ao orgulho e ao egoísmo, muitas vezes abusando deste poder por pensar que a mulher nunca o deixaria por depender totalmente dele. Assim muitos homens batiam em suas esposas, cometiam abusos psicológicos, recusavam-se a enxergar seus defeitos e se colocavam como superiores às mulheres em tudo. Com esta atitude de tudo poder por ser o senhor absoluto, se entregou aos prazeres da carne e da bebida de modo abusivo e a mulher deveria aguentar e aprovar tudo isto como se fosse normal. Este homem antigo paralisou sua caminhada espiritual em seu orgulho e egoísmo para assegurar sua superioridade sexista se aprisionando cada vez mais no mundo material.


A mulher de antigamente que vivia como a Princesa eterna Amélia dona de casa dependente do marido via seus sonhos de se realizar profissionalmente e de se aventurar pelo mundo sendo reprimidos. Deixava seu marido ser abusivo e ao ser abusada se maltratava internamente. Era reprimida sexualmente e as que saíam deste padrão eram excluídas como prostitutas. As que tinham muitos poderes eram comparadas aos homens ou eram consideradas feiticeiras e bruxas. As mulheres antigas eram consideradas praticamente como um bem material, com seus dotes a serem adquiridos pelos maridos ou pretendentes. Elas alimentavam o orgulho e o egoísmo dos seus maridos ao aceitarem seus abusos.


Pobre Cinderela. Acreditou que seria libertada dos trabalhos de casa ao se casar com o Príncipe Encantado. Não avisaram que o conto de fadas da Cinderela estava invertido para a sociedade real antiga? Este era o final do conto!!! Ficar eternamente fazendo trabalhos domésticos aprisionada!!!

Os feiticeiros e magos, as bruxas e feiticeiras, as fadas eram as únicas que tinham poderes mágicos ou mediúnicos e tinham o poder de entrar dentro do mundo interior e manipular as crenças a seu favor ou contra os outros. Muitos eram queimados pela Inquisição e até hoje ainda são mal vistos por muitas religiões pois fogem do controle das mesmas.


E a verdade sobre o amor romântico é que certamente o amor entre um homem e uma mulher pode muito bem não ser um amor verdadeiro, altruísta. O casamento muitas vezes se dá de maneira a servir os interesses materiais dos casais e até para as pessoas terem a aceitação da sociedade e dizerem que são felizes e realizadas. Quantos golpes do baú acontecem? Quantos casos de abuso acontecem? Filhos se tornam troféus para serem exibidos para a sociedade e se não servem a este propósito são excluídos e rejeitados. Quantos casamentos foram realizados apenas porque existiu uma gravidez indesejada?


Acredito que todos saibam do que aconteceu depois deste casamento de conto de fadas.


E ainda tem gente que gasta mundos e fundos em casamentos para depois de um ano ou dois se separarem.

Todos estes indivíduos formatados pela sociedade antiga também possuíam ambas as energias Yin e Yang (feminina e masculina) dentro de si, porém eles as reprimiam e assim o desequilíbrio se instalava e nunca era resolvido.

E Viva A Nova Consciência

Os contos de fadas modernos estão desconstruindo estes estereótipos que as pessoas incorporaram como formato de vida. Eles dão para as pessoas o senso de que as energias masculina e feminina estão dentro de cada um e que cabe a cada um individualmente equilibrá-las. Eles retiram a idéia de que as pessoas precisam ser perfeitas e precisam obedecer ao padrão estético e vivem uma vida perfeita e são perfeitamente educados.

Começando pela série de animação do ogro Shrek. A história de Shrek é o inverso dos contos de fadas. Os mocinhos da história são ogros e preferem permanecer ogros a voltarem a ser príncipes e princesas lindos e perfeitos. O padrão estético é quebrado em prol do que é mais verdadeiro, da essência verdadeira das pessoas comuns.


Eles não são educados e limpos, soltam gases em casa, preferem viver em uma casa comum a ter um castelo e serviçais. Renunciam ao cargo de Rei e Rainha para serem apenas cidadãos comuns.


Vemos Shrek ajudando Fiona a trocar fraldas como um pai moderno que não se nega a entrar na cozinha e nem a assumir papéis que antes diziam ser femininos.


E vemos Fiona e as Princesas dos contos de fadas lutarem como guerreiras, com seu lado da energia Yang masculina vindo à tona.


É a primeira vez que o Príncipe Encantado vira um vilão e a Fada Madrinha também.


A partir de 2010, a Disney começou a produzir uma série de animações das princesas que colocam-nas não mais como meninas frágeis e indefesas, da energia passiva (Yin). Agora as princesas possuem tanto a energia Yin quanto a energia Yang dentro de si e não dependem dos homens para conseguirem o que querem.

Enrolados é outra animação da Disney que adaptou para os tempos modernos o conto de Rapunzel. É talvez a primeira princesa da Disney que quebra com o padrão antigo da princesa passiva e frágil para ser uma princesa que vence a prisão da torre e tem poderes mágicos próprios (do seu cabelo). A imagem do príncipe é desconstruída e neste desenho ele não é um príncipe, é um ladrão comum que aparece apenas para fazer com que Rapunzel tenha um pretexto para sair da torre sozinha.


Valente entra no universo dos celtas antigos e lembra os elementais e a Wicca, a magia celta moderna. Merida é uma princesa que também não é frágil. Ela mesma é destemida e maneja o arco e flecha como ninguém. É uma mulher guerreira.


Frozen, adaptação de "A Rainha da Neve" fala da história de duas princesas irmãs corajosas e destemidas. Elsa possui os poderes mágicos como se fosse uma fada, incorporando dentro de si o poder mediúnico das fadas e bruxas, além de possuir dentro de si também a energia  Yang.


Anna já não é também uma princesa frágil e dependente, mesmo sem os poderes da irmã luta ativamente para conseguir seus objetivos.

A imagem do príncipe bonzinho que salva a princesa cai por terra quando Anna conhece Hans que na verdade é um príncipe ambicioso e interesseiro e queria casar com ela apenas para conseguir ter um reino.


Sven que é um homem do povo e trabalhador, cheio de defeitos e fora do padrão de educação formal, acaba por ser mais verdadeiro e até sensível. Há uma parte do filme em que ele diz que tem vontade de chorar ao se emocionar ao ver a beleza do castelo que Elsa construiu. Anna diz a ele que ele pode chorar que ela não terá preconceitos quanto a isto. É um homem que possui a energia Yin dentro de si não reprimida.

Nem Elsa e nem Anna são salvas pelo beijo do Príncipe Encantado. Elas são salvas por encontrarem o amor próprio e o amor familiar entre irmãs e Elsa aprende que ao controlar seus sentimentos para o amor, pode controlar também seus poderes mediúnicos de telecinese (a dobra da neve, a criocinese, telecinese da neve). O amor romântico já não é mais o único amor verdadeiro e nem o último fim da existência humana.


Assim somos nós verdadeiramente. Seres com ambas as energias Yin (feminina) e Yang (masculina) dentro de nós, com poderes mediúnicos e de manifestação nas nossas vidas, responsáveis pelos nossos pensamentos positivos e negativos com os quais plasmamos nossa realidade e com os quais podemos tanto destruir como construir e curar. Cabe a nós mesmos buscar o equilíbrio e resolvermos nossos conflitos internos sem reprimir uma energia ou outra.

Malévola conta a história da Bela Adormecida antiga porém desconstrói a imagem do Rei bonzinho, sábio e benevolente e mostra a realidade dos reis antigos que conquistavam terras e eram ambiciosos, invejosos, ladrões e assassinos, destruidores do meio-ambiente. Além disso, mostra como os sábios místicos antigos (os feiticeiros, bruxos, fadas) podiam trabalhar seus poderes e controlá-los através dos sentimentos e do amor. Esta também não é uma história onde o príncipe salva a princesa. É uma história que fala sobre a realidade dos reinos antigos e da relação dos homens com a Natureza e os elementais (pois Malévola era a Rainha das Fadas do lugar onde ela habitava) que era abusiva, com os homens querendo ser ambiciosos e inescrupulosos a ponto de pensarem em destruir a natureza apenas para obter tesouros.


E assim incorporando dentro de nós o espírito dos Novos Tempos, podemos ser mais felizes. Podemos desfrutar da libertação de padrões da dualidade. Podemos assumir nossa responsabilidade pelos nossos atos e pela criação da nossa realidade. Podemos pensar novamente em como nos relacionarmos com a Natureza e o meio-ambiente, pois nós somos parte dela e não adversários ou parasitas como muitos tem se comportado.

E Viva a Era de Aquário!!!

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